Este é um «pequeno» apontamento escrito pelo actual Bastonário da Ordem dos Advogados:
"MARIO SOARES E ANGOLA
in « Diário do Centro », de 15 de Março de 2000
.
A polémica em torno das acusações das autoridades angolanas
segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais
beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela UNITA de
Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o
comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos.
Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das
figuras políticas do país, que vão desde o Presidente da República até ao
deputado do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo
Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de
fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares),
pensadores profissionais, autarcas, « comendadores » e comentadores de serviço,
etc? Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso
bordel.
Sei que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país
(apesar de tudo) não é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de
Mário Soares e do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar
politicamente como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana «
Papa Doc » e «Baby Doc ».
Vejamos então por que é que eu não gosto dele(s).
1. - A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é
que é um homem que não tem princípios mas sim fins. É-lhe atribuída a célebre
frase: « Em política, feio, feio, é perder ». São conhecidos também os seus
zigue-zagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo
Caetano uma legalização do seu (e seus amigos) agrupamento político, num gesto
que mais não significava do que uma imensa traição a toda a oposição, mormente
àquela que mais se empenhava na luta contra o fascismo...
JÁ DEPOIS DO 25 DE ABRIL, ASSUMIU-SE COMO O HOMEM DOS
AMERICANOS E DA CIA EM PORTUGAL E NA PRÓPRIA INTERNACIONAL SOCIALISTA.
Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e
executar o golpe contra Salvador Allende no Chile e que colocara no poder
Augusto Pinochet. Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses
como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e FOI AMIGO DE NICOLAU
CEAUCESCU, FIGURA QUE CHEGOU A APRESENTAR COMO MODELO A SER SEGUIDO PELOS
COMUNISTAS PORTUGUESES. Durante a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas
do país a palavra de ordem « Partido Socialista, Partido Marxista », mas mal se
apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os
seus governos notabilizaram-se por três coisas: políticas abertamente de
direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa
inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram os salários
em atraso.
INSULTO A UM JUIZ
Em Coimbra, onde veio uma vez como primeiro ministro, foi
confrontado com uma manifestação de trabalhadores com salários em atraso.
Soares não gostou do que ouviu (chamaram-lhe o que Soares tem chamado aos
governantes angolanos) e alguns trabalhadores foram presos por polícias
zelosos. Mas, como não apresentou queixa (o tipo de crime em causa exigia a
apresentação de queixa), o juiz não teve outro remédio senão libertar os
detidos no próprio dia. Soares não gostou e insultou publicamente esse
magistrado, o qual ainda apresentou queixa ao Conselho Superior da Magistratura
contra Mário Soares, mas sua excelência não foi incomodado. Na sequência, foi
modificado o Código Penal, o que constituiu a primeira alteração de que foi
alvo por exigência dos interesses pessoais de figuras políticas.
Soares é arrogante, pesporrento e malcriado.
É
conhecidíssima a frase que dirigiu, perante as câmaras de TV, a um agente da
GNR em serviço que cumpria a missão de lhe fazer escolta enquanto presidente da
República durante a Presidência aberta em Lisboa : « Ó sr. Guarda desapareça ».
Nunca, em Portugal, um agente da autoridade terá sido tão humilhado
publicamente por um responsável político, como aquele pobre soldado da GNR.
Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro
democrata. Ou melhor é muito democrata se fôr ele a mandar. Quando não,
acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o;
tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que ele
manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece.
Quem ousar ter ideias
próprias é triturado sem quaisquer contemplações. Algumas das suas mais sólidas
e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus
interesses ou ambições pessoais.
Soares é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais
sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do próprio país. Em
1980, não hesitou em APOIAR OBJECTIVAMENTE O GENERAL SOARES CARNEIRO CONTRA
EANES, NÃO POR RAZÕES POLÍTICAS MAS DEVIDO AO ÓDIO PESSOAL QUE NUTRIA PELO
GENERAL RAMALHO EANES. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar
a presidência da República a um general do antigo regime, Soares, em vez de
acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a
intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas
e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de
sempre como Francisco Salgado Zenha.
Confesso que não sei por que é que o séquito de prosélitos
do soarismo (onde,lamentavelmente, parece ter-se incluído agora o actual
presidente da República ( Mário Soares)), apareceram agora tão indignados com
as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da
publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário Soares. NA ALTURA TODOS METERAM A
CABEÇA NA AREIA, INCLUINDO O PRÓPRIO CLÃ DOS SOARES, E NEM TUGIRAM NEM MUGIRAM,
APESAR DE AS ACUSAÇÕES SEREM ENTÃO BEM MAIS GRAVES DO QUE AS DE AGORA. POR QUE
É QUE JORGE SAMPAIO SE CALOU CONTRA AS «CALÚNIAS» DE RUI MATEUS ?»
"Não é desconhecido o apoio político que o dr. Mário Soares e o seu filho deram
à UNITA durante a guerra civil em Angola. Isso deixou traumas, ainda não
superados, em alguns opinion makers angolanos. E não me refiro à classe
política."
Sem comentários:
Enviar um comentário