ÁRBITROS À PORTUGUESA

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LEVA LÁ A TAÇA
por Daniel Oliveira
in Jornal RECORD
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Quando o padroeiro dos oftalmologistas, São Lucílio Baptista (SLB para os amigos), viu que Pedro Silva tinha um braço no meio do peito e uns pés meio metro à frente do lugar onde realmente estavam, confesso que fiquei, por assim dizer, com azia. Quando o jogador de três braços e pés gigantes mostrou os seus dotes de atirador de medalhas, senti-me um pouco vingado. Quando vi a alegria com que os jogadores benfiquistas seguravam na taça Carlsberg, provávelmente a mais roubada do Mundo, fiquei incomodado. Quando, uns dias depois, Lucílio veio explicar que tinha a certeza que tinha visto o que não aconteceu, já comecei a achar graça. Quando explicou que não se apercebeu da gravidade da enorme peitada que levou do jogador do Sporting, percebi que a visão não era o único sentido a precisar de afinação. Quando o Benfica veio acusar o Sporting de mau perder, percebi que está na altura de mudar o estádio do Campo Grande para a estação do Senhor Roubado. Os adversários saberão, intuitivamente, como lá chegar.

Depois, os Sportinguistas mostraram a sua classe. Pedro Silva fez o que o árbitro estrábico não conseguiu fazer: pediu desculpas. A generalidade dos adeptos fez o que aprendeu com anos de experiência: geriu a frustração com humor. Um padre até anunciou aos seus fiéis que por causa de Lucílio Baptista não haveria baptismo para lucílios. No meio disto, os benfiquistas gozaram com a indignação alheia. É só uma taça de papel, dizem. Pode ser que seja, mas foi para a conquistar que precisaram de São Lucílio. No fim, o episódio até uniu sportinguistas desavindos. Fica apenas um amargo de boca: as palavras de solidariedade, depois do roubo, vindas do FCP. É como receber condolências de Jack, o Estripador.

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